Campus Lagoa do Sino fortalece formação crítica com iniciativas que discutem justiça socioambiental e racial
Atividade “Rodas de Saberes: Leituras e Diálogos sobre a questão Racial e a Experiência Afro-Brasileira” na na Oca da UFSCar - Lagoa do Sino.
No início de Setembro, a professora Tatiana Machado de Souza, docente do Centro de Ciências da Natureza (CCN), do Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), iniciou a disciplina optativa “Introdução aos Estudos Decoloniais em Biologia da Conservação”. A disciplina, ofertada no curso de Biologia, é aberta a todos os estudantes do campus e relaciona ecologia, sociologia, história e ética ambiental, valorizando experiências e conhecimentos que historicamente têm sido sub-representados nos paradigmas da ciência ocidental e que vem ganhando espaço em novas abordagens acadêmicas interdisciplinares.
A construção da disciplina surgiu de um diálogo de Souza com o doutorando em Ciências Ambientais Thymon Brian Rocha Santana, que atua também como professor convidado na atividade. Os pesquisadores perceberam que suas preocupações ambientais e sociais se conectavam, mesmo com formações em áreas distintas, Tatiana na área das ciências biológicas e Thymon na área das ciências sociais. A partir do contato com a literatura decolonial, especialmente com os pensamentos de Malcom Ferdinand e Achille Mbembe, os docentes desenvolveram uma proposta de disciplina voltada a profissionais da área ambiental, que debate justiça socioambiental.
A disciplina de Estudos Decoloniais propõe uma análise das ciências da conservação da natureza de maneira crítica, questionando práticas tradicionais e hegemônicas que muitas vezes marginalizam os saberes locais. O curso traz uma reflexão sobre como essas práticas podem ser mais inclusivas, éticas e colaborativas, considerando diferentes perspectivas e histórias de ocupação territorial. De modo interdisciplinar, os conteúdos abordados são: história da Biologia da Conservação e suas limitações do ponto de vista decolonial; impactos do colonialismo e do racismo na ciência ambiental; reconhecimento e valorização de saberes tradicionais, locais e indígenas; discussões sobre justiça ambiental, territorialidade e políticas públicas de conservação.
Tatiana destaca que a disciplina ofertada no Campus Lagoa do Sino atua promovendo práticas de conservação participativas e inclusivas, ao mesmo tempo em que adota uma abordagem crítica sobre os desafios territoriais da região, integrando saberes locais na construção de soluções ambientais. A professora ressalta que “a disciplina incentiva reflexões sobre como a ciência pode ser um instrumento de transformação social, e não apenas técnica. Ela valoriza a troca de saberes, a educação ambiental colaborativa e a ciência cidadã, preparando os estudantes para atuar em projetos de conservação que respeitem a diversidade racial, cultural e ecológica do Brasil”.
Rodas de Saberes: Leituras e Diálogos sobre a questão Racial e a Experiência Afro-Brasileira
Outra iniciativa importante começou a ser realizada em 10 de setembro no Campus Lagoa do Sino. A Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão (ACIEPE) “Rodas de Saberes: Leituras e Diálogos sobre a questão Racial e a Experiência Afro-Brasileira”, ofertada pelos professores Jorge Luis Rodrigues Pantoja Filho e Márcia Richtielle da Silva, teve seu primeiro encontro. Ao longo do segundo semestre, os participantes da ACIEPE irão se reunir na Oca da UFSCar para dialogar sobre a questão racial.
A atividade pretende ampliar a escuta, a reflexão e o diálogo no ambiente universitário, com foco na experiência e na produção de saberes afro-brasileiros. A ACIEPE tem como objetivo criar um espaço formativo interdisciplinar voltado à reflexão crítica sobre as relações étnico-raciais no Brasil e se utilizará de rodas de conversa, leituras dirigidas e discussões sobre pesquisa e práticas.
Textos importantes como “ Racismo e sexismo na cultura brasileira”, “A juventude negra brasileira e a questão do desemprego”, “ Mulher negra” e “A esperança branca” de autoria de Lélia Gonzalez e “O que é lugar de fala?” de Djamila Ribeiro, farão parte dos próximos encontros, que serão realizados de forma presencial a cada quinze dias. Por meio do diálogo, a ACIEPE estimulará o debate horizontal, a escuta ativa e o respeito à diversidade de opiniões e vivências.
André Pereira da Silva, Secretário Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFSCar, ressalta a importância de atividades que promovam a equidade e o pensamento crítico no Campus Lagoa do Sino, e afirma que “para a UFSCar, ao observar lacunas na formação de estudantes sobre as dinâmicas do racismo estrutural, racismo ambiental, resistências negras e valorização das culturas afrodescendentes, iniciativas como essas, que discutem temas étnico-raciais e socioambientais, são fundamentais. Além de contribuir com a formação de profissionais e cidadãos com consciência crítica, o desenvolvimento dessas ações cumpre com as orientações do PDI e da Política de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da Universidade”.